3.12.08

Istambul (VI): epílogo


Falo dos autocarros desgraçados apinhados de gente e de raparigas muito pintadas que exibem com orgulho os seus cabelos ocidentais invariavelmente loiros e olham com desdém as outras, as outras que usam com resignação ou orgulho (vá o turista saber) o véu islâmico, das crianças demasiado agasalhadas para um tépido mês de Outubro, dos autocarros que não conseguem furar por entre ruas de passeios de frigoríficos e fogões velhos à porta de lojas de motores e peças enferrujadas; falo de uma menina resignadamente sentada entre os seus pais muito jovens num autocarro dos subúrbios, uma menina de gorro de lã apertado debaixo de pescoço e com tanta roupa vestida que os bracinhos ficam afastados do corpo, falo dos pais que tagarelam sem parar e da menina que silenciosamente me pede socorro, falo da criança que sentada no chão, ao lado do avô que vende não sei o quê numa rua de Beyoglu, faz os deveres da escola sob a luz mortiça de um candeeiro da rua; dos vendedores de castanhas, coisa mais linda a maneira como exibem as castanhas alinhadas, como pode ser bela uma venda de peixes, as guelras expostas com arte.


estive em Istambul em Outubro de 2005

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