9.1.07

Educação

A Mãe

“A nossa mãe continuava:

- Tenho que acrescentar às decisões do vosso pai algumas disposições que eu tomo como dona de casa. Em primeiro lugar, suprimo o aquecimento nos vossos quartos: não desejo encontrá-los uma bela manhã asfixiados. Também suprimo as almofadas: curvam as costas. Os édredons seguem o caminho das almofadas. Um cobertor no Verão e dois no Inverno são largamente suficientes. À mesa exijo que ninguém fale sem ter sido interrogado. Devem estar sentados correctamente com os cotovelos juntos ao corpo, as mãos pousadas uma de cada lado do prato, a cabeça direita. No que diz respeito aos quartos, vocês é que têm que os arrumar. Inspeccioná-los-ei regularmente, e ai de vós se encontro alguma teia de aranha! Para acabar, não quero ver-vos mais essas gaforinas de ciganos. Daqui em diante passam a trazer o cabelo rapado: é mais limpo”



Os Filhos

“Lembro-me… lembrar-me-ei toda a vida de Folcoche*… Porque tinham os plátanos essas inscrições tão curiosas, esses V.F. quase rituais, que se podem encontrar em todas as árvores do parque, carvalhos, tulipeiras, freixos, em todas excepto num taxaudier de que gosto muito? V.F. …V.F. … V.F. …Isto é: vinguemo-nos da Folcoche! Vinguemo-nos! Vinguemo-nos da Folcoche gravado em todas as cascas de árvore, e nas abóboras-menina do fim do ano, e nas pedras das torres pequenas, nessa pedra tenra que se deixa riscar com a ponta de um canivete, e mesmo na margem dos cadernos. Não, minha mãe, aquilo não era, como lhe dissemos algumas vezes, um expediente mnemotécnico: os verbos franceses, não esquecer os verbos franceses. Não, minha mãe, aqui há um só verbo que conta, e nós declinamo-lo correctamente em todos os tempos. Eu odeio-te, tu odeias-me, ele odeia-a, nós odiar-nos-emos, vós tínheis-nos odiado, eles odiaram-se! V.F. …V.F. … V.F. …"

*folle + couchon

De víbora na mão, Hervé Bazim

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