18.11.09

Malandros

Sebastião Salgado






Como se sabe, o mundo de muitos dos cronistas dos jornais de referência é bem pequeno e autocentrado. Na lista cabe a Filomena Mónica, cabe, noutro estilo, a querida Laurinda, cabe quase todos os dias o Miguel Sousa Tavares. Olham para o umbigo e escrevem uma crónica, chegam-se à janela do condomínio e escrevem uma crónica. E indignam-se muito. Um destes dias a Helena Matos indignava-se ,não num jornal de referência, mas num blogue, o que não faz grande diferença, com o rendimento social atribuído a uma família que anos antes tinha ganho a lotaria, ou coisa que o valha. E acabava a dizer que a vida está para os malandros que não querem trabalhar. A Helena Matos é invejosa, a Helena Matos tem que trabalhar, escrever crónicas umbilicais para jornais de referência e postes em blogues, a Helena Matos tem inveja de quem recebe RSI . A Helena Matos escreve alarvidades e nós até pagamos para as ler.


Sábado à tarde numa bomba de gasolina, abeira-se do meu carro um malandro, podia arranjar-me um euro para meter gasolina no carro?Um euro para gasolina, malandro? tu queres é um euro para juntar para a droga. Um euro que os senhores me dessem, mais outro que outro senhor me deu, já me dava para meter gasolina para ir levar o miúdo à mãe, a S. Martinho, eu não estava a contar ter que o levar e agora estou enrascado. Estes malandros têm uma latósia e cada vez inventam histórias mais rebuscadas. É verdade que uma coisa vermelha, e que já viu muito melhores dias, está parada mais à frente. E, subitamente, do carro vermelho, sai o garoto, cabeça cheia de caracóis, uns dez anos que em nada o distinguem de um meu filho, ou de um teu, homem ou mulher que me lês, o que o distingue é o prosaico pormenor de o pai não ter um euro para meter gasolina para o levar à mãe, oh pai dois euros já devem chegar. O pai afaga-lhe os caracóis, metem a gasolina e arrancam no meio da fumarada. Pois a vida está para os malandros, mas que irá este comer ao jantar?

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