19.11.09

da adopção


Anda tudo doido de um lado e do outro. Passámos de há uns anos atrás (pouco depois, ou por aí, das mulheres rasgarem sutiãs em público) se encarar o casamento como um acto burguês, uma tentativa de burocratizar o amor, um atentado à liberdade, para depois se reconheceram, e muito bem, as uniões de facto, para se chegar aos dias de hoje em que uns tantos, que aqui d’el rei, sem casamento é que não. E paradoxalmente dizem-me que os portugueses, os que de acordo com o actual quadro legal se podem casar, escolhem cada vez menos esta via. Dá Deus nozes a quem não tem dentes e isto parece cada vez mais a história do velho do rapaz e do burro. Pois eu não sou a favor (já agora, nem contra) do casamento de casais homossexuais, é assunto que não me interessa. Nem considero que configure um atraso ou um avanço civilizacional.
Não bastavam todas as tolices que se têm dito em relação a tão elevado assunto e tinham ainda que vir meter as crianças ao barulho. E das crianças que já são seres vulneráveis, tinham que escolher as que são ainda mais vulneráveis, as crianças com necessidade de terem uma nova família. E de novo vale tudo, dos direitos constitucionais à catástrofe de se verem crianças a viverem num ambiente de deboche, que outro estilo de vida não podem ter os casais homossexuais (em oposição às maiores garantias dadas por toda e qualquer família tradicional). E esquecem o mais importante, ninguém, mono, bi, tri, homo, hetero, tem direito a adoptar uma criança. Apenas existe o direito que toda a criança tem de ter uma família, um colo. Pois eu espero que os tribunais e a segurança social (embora até nem tenha tantas razões para acreditar no bom senso destas duas instituições) não entreguem uma criança a um casal heterossexual desavindo, a uma mulher ou homem que não garantam um ambiente seguro e harmonioso ou, ao estereótipo de um casal homossexual, trauliteiro e sem a mínima garantia de estabilidade. Conheço casos de meninos adoptados por famílias monoparentais que correm muitíssimo bem, e outros, de famílias tradicionais, que deram para o torto e de que maneira. Conheço um caso de uma família que, perante o divórcio, em vez de disputarem o filho, como muitas vezes ocorre com filhos biológicos, guerreiam sobre quem há-de levar o empecilho. Conheço casos de crianças “devolvidas” (e não são tão poucas) por não corresponderem ao idílio que as famílias esperavam, e esse é o maior erro.


Depois de ter escrito isto fui ler

não me consigo incluir em nenhuma das categorias referidas, nem acredito que haja pessoas capazes de usarem o primeiro argumento (é um auto-atestado de imbecilidade). Em relação ao segundo argumento tenho as minhas duvidas, não porque não seja um tema digno, mas porque não tem a urgência (e disso não tenho dúvida) de outras dores, injustiças e desigualdades. E a discussão de umas e não das outras só deriva da voz e poder de uns, contra a falta dessa mesma voz e desse poder nos outros. Quanto à impossibilidade de dissociar casamento de adopção, discordo por tudo o que disse, mas acho que estamos a falar de coisas diferentes.

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