10.7.09

Os mortos em Timor

Os mortos em Timor, não são os corpos que os vivos habitaram neles.




Não é o corpo de Tomás que continua proprietário do carro azul. É o seu nome, intensamente guardado na memória daqueles para quem esse nome tinha um significado. Esse nome não apodreceu. Habita o presente, está ali.
É preciso recordar que para Egídio, o corpo de Tomás não existiu durante a maior parte dos anos em que o seu sobrinho, foi, digamos, biologicamente vivo, pois levaram-no de Bauró em criança, sem rasto.
Sob a ocupação indonésia, os raptos equivaliam a óbitos. Olhada de fora a persistência de Egídio parece gratuita. Mas o tio encontrou finalmente o sobrinho e o sobrinho regressou à família e à tribo. Isto é: Tomás, a jóia da família Gandara, viveu apenas porque alguém o manteve vivo. De outra forma, teria morrido aos três anos e, na sua vez, mas no mesmo corpo, teria continuado a viver um jovem chamado Tommy Abdurrahman, javanês, muçulmano.


Pedro Rosa Mendes, Ler, Julho de 2009

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