12.1.09

Na sociedade do desperdício


M. foi a uma festinha de anos de um amiguinho (agora diz-se assim, tudo deve acabar em inho ou inha). Fartos de saber que os brinquedos, por mais caros que sejam, levam todos o mesmo destino, no próprio dia, ou, na melhor das hipóteses, menos de uma semana depois, vão parar a um caixote e por lá ficam esquecidos, costumamos oferecer livros. Que até podem ter a mesma sorte... Desta vez resolvemos inovar, M. passa horas a desenhar e a pintar, uma das paredes da cozinha é uma exposição permanente, porque não dar tintas, blocos de desenho e pincéis ao amiguinho que tem a mesma idade? Esse foi o primeiro erro. Segundo erro, comprámos o material numa grande superfície e embrulhámos em casa, logo o presente não tinha nem um grande laço nem uma etiqueta de uma grande marca.
Resisti estoicamente ao olhar de desdém, até de desprezo, da mãe do menino que desembrulhava o presente; enquanto o irmão mais velho do menino, a mesma boquinha torcida exclamava “eu tenho disso, mas é material escolar”.

4 comments:

Anonymous said...

eu ofereci uma boneca morenona quase preta de pano a uma criança loura filha de embaixadora em país de gente morenona quase preta. a criança abriu, olhou, atirou-a para o chão e foi-se embora. a mãezinha não comentou, não corrigiu, serviu-se de outro gin tónico e lá foi mingle mingle!

o teu presente teria sido muito bem recebido por aqui! e histericamente celebrado.

Isabel said...

pois, essa historia das bonecas pretas não é inédita, aqui em casa há um bebé preto do Imaginarium e já houve quem se admirasse. Quanto ao resto, enfim, o que vale é que eu já sou velha para me preocupar com essas coisas.

Eva Lima said...

Mas isso será falta colectiva de chá ?
O ano passado numa festa(inha) de anos duma colega(inha) da T. (no Mac, só para registo) a T ofereceu-lhe um livro de contos (daquela colecção com ilustrações russas). A menina comentou ao abrir em voz alta e estridente: um livro?!?! resposta da mãe: cada um dá o que pode (em tom de coitadinha não pode dar mais nada).

Isabel said...

a conversa é como as cerejas, uma vez um menino perguntou ao meu filho que não exibia um disfarce de carnaval espaventoso como o dele "os teus pais são pobrezinhos?". Coisas de crainças mas que reflectem o que ouvem em casa.