13.1.09

Medo


Porque escrevemos ou contamos histórias de medo? Como forma de o exorcizar, de o espantar?

O pior dos medos, o medo de perder um filho. Foi o meu primeiro contacto com a morte, com alguém que eu soube, vai morrer. Esse alguém tinha 2 dias e devia ter uma vida pela frente. Éramos duas mães felizes num quarto de maternidade, eu com uma rapariga, ela com duas. Uma das duas meninas da outra mãe não mamava, a minha deixou de respirar na primeira noite, arroxeou, o pediatra disse-me “mãe pegue na menina e venha comigo”. O medo, o medo sobretudo quando as explicações não nos convencem. Ao segundo dia ao ver a minha menina, quase 4 kg, no meio dos bebés de 700 g tive a certeza de que tudo iria correr bem. A outra menina continuava a não mamar e uma manhã começou a gemer e eu soube, sei lá porquê, a F. vai morrer, toquei a campainha com todas as forças, o enfermeiro soube o mesmo, veio o pediatra a correr e a correr a levou dali, a mãe não compreendia nada, mais tarde soube que a F. teve uma paragem cardíaca antes de chegar à neonatologia (três portas à frente do nosso quarto), desapareceram as roupinhas pastel, o casaquinho feito pela avó deu lugar a um peito ofegante crivado de tubos. Durante anos aquela imagem não me saiu da cabeça e neguei a mim mesma que não pudesse ter sido salva de tal forma me parecia monstruoso outro final. Mas um dia, numa bomba de gasolina, encontrei a mãe e só transportava uma menina e um frio muito grande no olhar.

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