9.1.09

L’Aquila: memórias de uma viajante




L’Aquila fica mais a sul, no paralelo de Roma. Há 20 anos já se adivinhava uma zona nova, de prédios mais ou menos altos, porventura feios, mas essa L’Aquila não é para aqui chamada. L’Aquila é uma cidade de ruelas estreitas e muitas igrejas, dizem que são cem as igrejas; as ruelas como em toda a Itália são atravessadas por automobilistas em velocidades vertiginosas, nós aos gritinhos de montanha russa no banco de trás. Nas segundas-feiras de manhã, o comércio fechado, os habitantes espraiando-se como gatos pelas praças, aproveitando o sol de Dezembro. Ao longe os Apeninos cobertos de neve, mas L’Aquila ocupa o vale e se calhar nunca lá neva; não nevou naquele Dezembro. Ao fim da tarde as casas e os trabalhos esvaziam-se e descem á rua principal famílias inteiras empurrando carrinhos de bebés, homens de braço dado em tertúlias mais intimistas, grupos de jovens universitários. Calcorreiam a rua para cima e para baixo, para baixo e para cima e não temem o frio, nem sequer andam às compras, passeiam apenas, carpe diem. L’Aquila tem cem igrejas que eu não as contei, também tem a fonte das 99 bicas, quase cem. Em tempos menos devotos algumas igrejas já não se dedicam ao culto, a nós calhou-nos um grandioso templo de influências góticas para montarmos o espectáculo de saltimbancos. Em L’Aquila, como em toda a Itália, o público aplaude muito, não espera pelo fim do espectáculo para uns minutos de palmas mais ao menos a pedido. Talvez influenciados pela ópera aplaudem a entrada do herói ou uma deixa dita com mais sentimento; nós riamo-nos das palmas e sentíamo-nos bem.

No comments: