Dos médicos
A consulta estava marcada para as 11h15, tanto rigor horário comoveu-me e pareceu-me de bom augúrio. Na entrada uma senhora de alguma idade e braçadeira amarela (seria a senhora das bolachinhas e do café de termos? não havia nenhuma das coisas à vista) recebeu-nos oferecendo ajuda e informou que a consulta estava marcada para as 11h40 (?), e que até era bem termos chegado mais cedo porque teríamos certamente pormenores a acertar com o secretariado, guichet à direita. No secretariado não havia grande coisa para fazer, fazem o favor de se sentar. Uma hora de praça da alegria depois, ágata incluída, a desgrenhada (e desdentada?) do secretariado vem anunciar com indisfarçável sadismo e em estilo de apresentador de circo, tapando-nos inclusivamente o Jorge Gabriel, o Senhor Dr informa que ainda tem duas pessoas para operar e deverá chegar pelas 12h30, novamente o rigor horário, e já agora a perplexidade perante tão rápido cirurgião, mas eu de cirurgia não percebo nada. No entretanto a um dos pacientes deu-lhe para o sermão do tu és pó e em pó te hás-de tornar, nós não somos nada meus irmãos, que é esta pequena espera, meus irmãos, perante tanta gente que sofre sem ter um médico, perante gente que tanto gostaria que lhe operassem os joelhos, mas que já os não os tem para serem operados. O Sr Dr chega às 13h20, fato escuro impecável e sapatos engraxadíssimos , como eu admiro quem é capaz de se manter assim impecável mesmo tendo saído dum bloco operatório, nem uma gotita de suor no rosto escanhoado, mas eu de cirurgia não percebo nada. Às 13h55 saímos todos, Dr. incluído, o Dr. levando na mão um saquinho que eu tinha visto anteriormente na mão dum paciente que não era o do sermão, uma lembrancinha para o Sr. Dr., obrigadinho, muito obrigadinho, graças a Deus ainda tenho joelhos para serem operados. É por isto, meus irmãos, é por isto que este país não anda para a frente.
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