9.10.08

Paris é uma festa



De todos eles, vindos de diferentes tempos, um daqueles que se afigura como mais atraente e fecundo para pessoas da minha geração, ou próximas dela, talvez seja o de certos cafés da Paris do pós-guerra, narrados e reinventados em inúmeros filmes e romances, ou pelas descrições de espectadores em trânsito como Antony Beevor (Paris after the Liberation: 1944 -1949, já traduzido), Stanley Karnow (Paris in the Fifties) ou James Campbell (Paris Interzone. Richard Wright, Lolita, Boris Vian and others on the Left Bank 1946-1960). Nos quais a ressaca dos anos beligerantes de pólvora e morte, da desconfiança perante todos os olhares, dos futuros sitiados, parecia abrir espaço para todos os possíveis mais impossíveis, incluindo-se nestes o desfrute do excesso. O fragor nocturno/diurno das conversas cruzadas, o fumo dos cigarros consumidos até ao fim em ambientes fechados, os aromas da pastelaria fina, das bebidas alcoólicas, da roupa das mulheres, da tinta no papel: tudo parecia evocar um início de mundo.



é verdade, e é o que tanto me atrai, por exemplo nos diários da Simone de Beauvoir. Lembro-me da excitação que senti a primeira vez que entrei no Deux-Magots, tipo, foi aqui...

Outro registo que me encanta, é o de Hemingway, entre as duas guerras, no que foi traduzido para português “Paris é uma Festa”, a boémia, as tertúlias, a dolce vita mesmo quando não tinham dinheiro para comer, o prazer (a necessidade) de viajar...

Mas descubro agora no prefácio da edição americana: escreve Hemingway "this book may be regarded as fiction. But there is always the chance that such a book of fiction may throw some light on what has been written as fact."

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