3.9.08

Dos livros das férias



Costumo guardar para as férias livros de grande fôlego, no ano passado li os 4 volumes do “Guerra e Paz”. Este ano tinha-me decidido por Dostoiévski e reler o “Crime e Castigo”. Mas não, ao olhar para a estante salta-me o “Marguerita e o Mestre” do Mikhail Bulgakov. Abro-o e encontro um papelito com um recado enviado por um amigo em 2003, terá sido a primeira tentativa de o ler. Estranhos desígnios, o que me terá feito abandoná-lo? Tinha-o na conta de um livro difícil, desta vez achei-o deli-deli-delirante. Sabe Deus, ou neste caso o diabo, porquê, vem-me à memória o “Versículos Satânicos”, bom pelo menos têm em comum o terem sido proscritos. Outro, desta vez era a autora que me assustava, shame on me, Agustina, li “Fanny Owen”, e a Agustina escreve tão bem, tão bem.
Depois li o conto que já referi do Gabriel Garcia Marquez.
Uma vantagem de se voltar todos os anos à mesma casa é que esta se torna um depósito de livros e revistas que alguém leu há muitos, muitos anos. Encontrei uma colecção chamada “Duas horas de leitura”, e li mais dois livros de contos, “Os contos de Odessa” do Isaac Babel e um outro de contos do S. Fitzgerald de que não recordo agora o título, contos de gente maligna. Também por lá encontrei e reli pela milionésima centésima vez o “Suave Milagre e outros contos” do Eça, parece-me que já sei passagens inteiras de cor.

Depois encontrei umas revistas "Ler" antigas e numa delas, de 1999, estas afirmações de José Saramago:


“Tenho dúvidas sobre a utilidade da acumulação de dados a que estou procedendo. Saber quanto ganhava um escriturário de 1ª, ou que havia automóveis da marca Terraplane, ou que uma geral no Coliseu custava 3$00, importa a quê, ou a quem?
...
Mas provavelmente estou nisto como estava quando foi de Mafra: as informações que, logo de entrada, eu sabia inúteis, são mais em número e maiores em importância do que aquelas que o livro vem a acolher. Provavelmente, repito, haverá que recolher o quanto baste de supérfluo que torne sólido o material aproveitado.”


é também disto que se faz um Nobel, digo eu.
nem só de ovelhas se fizeram as férias, de qualquer modo a um pastor sobra-lhe muito tempo enquanto as ovelhas pastam a erva tenra e as cabras destroem os arbustos em redor.

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