15.2.08

Emigrantes



via A Ervilha Cor de Rosa



Desde muito pequena tive que partilhar as minhas férias de verão com os avecs. Passava as férias numa aldeia da Beira Alta e as famílias de emigrantes eram os intrusos que nos roubavam uma coisa a que só nós tínhamos direito: o rio, que nos enchiam as tardes de espalhafato, de Ricardô viens ici, e o rio de sabão, porque iam para lá também para tomar o banho que nas casas onde veraneavam não podiam tomar.
Muito mais tarde fiz uma viagem inesquecível desde Paris, sozinha, num autocarro de emigrantes. Calhou-me por companhia, atravessando a Espanha numa noite sem sono, um português, com um bócio até aos joelhos, que tinha em Paris a bonita profissão de coveiro. Contou-me a vida desde pequenino, falou sobretudo da desgraçada da mulher que o tinha abandonado, que o tinha trocado por outro (pelo meio havia umas histórias de infidelidades da parte dele, coisas de somenos importância). Pela madrugada, à medida que nos aproximávamos de Vilar Formoso e o meu cansaço aumentava, aumentava também o volume e o tom das músicas gravadas cheias de Portugal e de bacalhau.
Quando, pela minha vez, fui uma pseudo-emigrante, num país de que desconhecia a língua, embora com a enorme vantagem de ser uma pessoa culta a falar a língua franca, percebi melhor algumas das muitas dificuldades por que passaram aquelas gentes, incultas, idas dum país medievo, dificuldades de que em muitos casos (na maioria dos casos?) foram vencedores. O meu respeito aumenta quando vejo fotografias como estas.

Na foto uma menina portuguesa, numa "bidon ville", transporta a boneca seguindo a tradição das mães e avós portuguesas.



“Por uma vida melhor”, fotografias de Gérald Bloncourt, a partir de 18 de Fevereiro no Museu Colecção Berardo

2 comments:

carla alexandra vendinha said...

patrique patrique viene ice mon cabron!as vacanças!!! as valises no sud express!se bem que agora já se vêem menos pois ja muitos estão na retret.

Isabel said...

C'est vraie, Alexandra.