Emigrantes
via A Ervilha Cor de Rosa
Desde muito pequena tive que partilhar as minhas férias de verão com os avecs. Passava as férias numa aldeia da Beira Alta e as famílias de emigrantes eram os intrusos que nos roubavam uma coisa a que só nós tínhamos direito: o rio, que nos enchiam as tardes de espalhafato, de Ricardô viens ici, e o rio de sabão, porque iam para lá também para tomar o banho que nas casas onde veraneavam não podiam tomar.
Muito mais tarde fiz uma viagem inesquecível desde Paris, sozinha, num autocarro de emigrantes. Calhou-me por companhia, atravessando a Espanha numa noite sem sono, um português, com um bócio até aos joelhos, que tinha em Paris a bonita profissão de coveiro. Contou-me a vida desde pequenino, falou sobretudo da desgraçada da mulher que o tinha abandonado, que o tinha trocado por outro (pelo meio havia umas histórias de infidelidades da parte dele, coisas de somenos importância). Pela madrugada, à medida que nos aproximávamos de Vilar Formoso e o meu cansaço aumentava, aumentava também o volume e o tom das músicas gravadas cheias de Portugal e de bacalhau.
Quando, pela minha vez, fui uma pseudo-emigrante, num país de que desconhecia a língua, embora com a enorme vantagem de ser uma pessoa culta a falar a língua franca, percebi melhor algumas das muitas dificuldades por que passaram aquelas gentes, incultas, idas dum país medievo, dificuldades de que em muitos casos (na maioria dos casos?) foram vencedores. O meu respeito aumenta quando vejo fotografias como estas.
Na foto uma menina portuguesa, numa "bidon ville", transporta a boneca seguindo a tradição das mães e avós portuguesas.
“Por uma vida melhor”, fotografias de Gérald Bloncourt, a partir de 18 de Fevereiro no Museu Colecção Berardo
2 comments:
patrique patrique viene ice mon cabron!as vacanças!!! as valises no sud express!se bem que agora já se vêem menos pois ja muitos estão na retret.
C'est vraie, Alexandra.
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