19.11.07

Política Espectáculo

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Por um lado, os responsáveis políticos, a começar pelo presidente em exercício, o primeiro-ministro português, fazem declarações de princípio sobre a importância da cimeira e sobre a natureza das relações entre a Europa e a África. Fala-se de uma agenda política global onde estarão presentes todos os temas da actualidade e afirma-se que os africanos terão parte plena na discussão dos mesmos. Defende-se o contexto de parceria política e reconhece-se o peso específico da África. Mas, depois, os técnicos que preparam a cimeira deixam perceber que os temas concretos que mais interessam as populações e dos quais o seu futuro imediato mais depende – como os conflitos no continente, os abusos dos direitos humanos, a corrupção, os acordos de parceria económica que noutra sede estão a ser discutidos entre a Europa e a África - correm o risco de não entrarem para a agenda. Por razões «óbvias». Isto é: para não ferir susceptibilidades políticas e pessoais e, sobretudo, para não perder oportunidades de negócios.
Convenhamos que, se a cimeira africana se realizar e os problemas que mais interessam as populações do continente ficarem de fora, não poderemos passar sem nos perguntarmos a quem interessa esta política espectáculo e que futuro tem uma cooperação lançada sobre estas bases. Teremos declarações de princípio, foto de grupo e palmadinhas nas costas... mas os africanos do Zimbaué, do Darfur, do Sudão, do Congo, de Angola, do Chade, da Costa de Marfim, da Etiópia, da Eritreia, da Somália... continuarão a viver na exclusão e a esperar em vão.


Manuel Ferreira, editorial da revista além-mar, Novembro 07

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