Fim de tarde em Coimbra: o Sermão de Santa Catarina de Padre António Vieira na Capela de S. Miguel
(dito pelo enorme actor Lima Duarte)
Padre António Vieira e as mulheres ou Santa Catarina e a
vitória do sexo
“341. Se na consideração do número venceu Santa Catarina as
Virgens sábias do Evangelho, reduzindo ela só a cinqüenta, quando elas, sendo
cinco, não puderam nem souberam reduzir a uma, não foi menos ilustre a sua
vitória na consideração do sexo. As virgens, sendo mulheres, não ensinaram a
uma mulher; Catarina, sendo mulher, ensinou a cinqüenta homens. O apóstolo São
Paulo fiou tão pouco do gênero feminino, que a todas as mulheres proibiu o
ensinar: Docere autem mulieri non permitto. E que razão teve São Paulo para um
preceito tão universal e tão odioso a metade do gênero humano, e na parte mais
sensitiva dele? A razão que teve foi a maior de todas as razões, que é a
experiência: Adam non est seductus, mulier autem seducta in praevaricatione
fuit (1 Tim. 2,14): Em Adão e Eva — diz o Apóstolo — se viu a diferença que há entre
o entendimento do homem e o da mulher — porque Eva foi enganada, Adão não. —
Ensine logo Adão, ensine o homem; Eva e a mulher, não ensine. O que só lhe convém,
e o que lhe mando, é que aprenda e cale: Mulier in silentio discatt. Segundo
este preceito, que mais parece natural que positivo, pois o Apóstolo o deduz
desde Adão e Eva, Catarina havia de aprender e calar, como mulher, e os
filósofos ensinar, como homens, como filósofos, como graduados nas suas ciências,
e como os primeiros e mais insignes mestres delas. Mas que Catarina fale e os
filósofos ouçam, que Catarina ensine e os filósofos aprendam, que Catarina não
só dispute, mas defina, não só argumente, mas conclua, não só impugne, mas vença,
e tantos homens, e tais se reconheçam e confessem vencidos, foi vitória que de
sexo a sexo só teve um exemplo, e de entendimento a entendimento nenhum.”
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