4.2.11

Serviço Público (II)



Há uns meses atrás passámos por uma muito dura experiência, o mesmo J. foi internado após uma doença súbita e aguda. Nos primeiros dez dias esteve internado num dos serviços dos HUC, dez dias de ansiedade, não só porque a situação não se resolvia, mas também porque o diálogo com os médicos era insuficiente, porque um rapaz de 17 anos estava numa enfermaria com cinco idosos sabe-se lá com que doenças e, sobretudo, porque parecia que quando eu não estava lá tudo corria mal. Andei durante dez dias atrás do pessoal de enfermagem e auxiliar, não clampem o dreno, o J. tem que ir ao raio x na cama, etc. Acreditam? Parecia que os procedimentos que deviam ser claros, conhecidos e determinados dependiam de quem (enfermeiros etc) estava de serviço.

Ao fim de dez dias, a terapêutica não estava a resultar e tiveram que recorrer à cirurgia. E o J. passou para a cirurgia cardio-torácica, dirigida pela mão “tirânica” do Prof Manuel Antunes. No mesmo hospital, a diferença é tão abissal que é difícil, para quem não conheça, que se aperceba dela através de um post. Um longo corredor separa a cirurgia cardio-torácica do restante corpo do hospital mas, ainda assim, pequeno para justificar tão grande diferença. Depois da cirurgia os cirurgiões perfilaram-se perante nós, apresentaram-se os que ainda não conhecíamos e deram-nos conta do sucesso da intervenção. "Agora podem acompanhar o J. à nossa enfermaria". Nessa noite deixei o J. coberto de fios e tubos numa sala apinhada de monitores, a enfermeira a dizer “podem ir descansados, o J. fica bem” e pela primeira vez acreditei e dormi a noite inteira. Os poucos dias que mediaram até á alta só serviram para fortalecer a primeira impressão sobre a excelência do serviço, e até os dias de Maio ficaram mais bonitos.
Porque é que o serviço público não aprende com o serviço público, não aprende com os privados?

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