25.1.11

As escolas com contrato de associação ou, cada caso é um caso



o meu filho mais novo frequenta uma escola privada com contrato de associação, os mais velhos também lá andaram do 1º ano ao 9º ano. O mais novo, como está no 1º ano, paga a escolaridade integralmente porque o contrato de associação só abrange os alunos do 5º ao 9º. Os mais velhos beneficiaram do contrato de associação do 5º ao 9º e se não existisse esse contrato teriam passado para a escola pública. Não tenho dúvidas de que os alunos que frequentam este colégio em particular tiram grandes benefícios de o fazerem, não só ao nível da formação escolar, mas também social e humana. Por exemplo, esta escola tem ofertas importantes que não existem na escola pública, como uma disciplina muito boa denominada “raízes greco-latinas da civilização ocidental”, no 5º e 6º anos e latim no 7º e 8º. São disciplinas obrigatórias que lhes dão bases muito sólidas nomeadamente no domínio da língua portuguesa. Para além disso, e sobretudo, os miúdos tiram grandes vantagens da elevada organização da escola, do corpo docente e não docente muito estável, de uma atenção individualizada e de uma segurança que nem sempre existem na escola pública. Resumindo, estou certa, que neste caso, o estado, gastando menos que numa escola pública, está a investir num ensino de grande qualidade de que mais tarde, quando estes alunos, entrarem no mercado de trabalho e no mundo adulto, toda a sociedade tirará benefício. O facto de ser um colégio católico pesou também favoravelmente na nossa decisão de matricular lá os nossos filhos.

Posto isto, o que penso dos protestos que têm sido organizados pelas escolas com contratos de associação?

por um lado:

- mudar regras a meio de um ano escolar não faz o mínimo sentido
- as novas regras vão aumentar o desemprego quer de docentes quer de pessoal não docente.
-muitos destes colégios são a única alternativa para algumas populações. E mesmo quando o não são, têm um papel social muito importante na região onde estão implantados – neste caso, por exemplo, as várias instituições nos subúrbios de Coimbra. Não vejo como se integrariam os alunos que obrigatoriamente iriam sair para as escolas públicas, já de si problemáticas, que existem nesses locais.
- a maioria dos pais dos alunos que frequentam muitos desses colégios nunca poderiam pagar o ensino dos filhos.
-idealmente os pais deveriam poder escolher o tipo de ensino e a escola dos filhos, independentemente da sua situação económica, a isso chama-se igualdade de oportunidades.

por outro lado, vejo com alguma preocupação soluções generalizadas do tipo cheque ensino. Temendo que isso leve ao desinvestimento no sistema de ensino público, que em Portugal ainda é tão frágil.

Quanto a mim, o Estado deveria continuar a apoiar e a viabilizar o tipo de escolas com contrato de associação que mencionei atrás e a apoiar todas as famílias que se identificam com um determinado plano educativo que não é oferecido na escola pública, nomeadamente no ensino das artes, e que não poderiam doutro modo custear a educação dos filhos. E finalmente, quem pode deve pagar.

13 comments:

fernando f said...

Cada caso é um caso e não devem ser muitos, assim: apoio onde não há oferta pública, apoio ao ensino opcional, pré defenido, onde cabem as artes. De resto defesa intransigente da escola pùblica. A história do cheque é meio caminho para a demissão.

tiago said...

Isabel, o estado deve viabilizar este tipo de escolas deixando-as existir.
não existe argumento da liberdade de escolha conforme tem sido explicitado - a liberdade existe sem financiamento público
Apoiar escolas privadas parece-me ir contra a coesão social. não te parece?
os teus filhos seriam, certamente, bons alunos onde quer que estivessem, se estivessem numa escola pública talvez ajudassem outros alunos a serem melhores.

o estado poupava se não desse um tostão a escolas integradas em locais onde há oferta pública

de resto concordo com o fernando f. sobre o apoio ao ensino opcional

um beijo,

tiago

margarete said...

"o estado, gastando menos que numa escola pública"

não me parece (não é só um 'achismo) que assim seja, antes o contrário

enquanto contribuinte dum estado laico, acho incorrecto que se garanta o ensino em escolas de vertente religiosa pq isso pressupõe que se garantam tantas escolas quantos são os credos... isto a ser um estado justo... a ser democrata...

querer, fazer gosto, que os filhos tenham um ensino que abranja áreas diferentes dos currículos nacionais é perfeitamente legítimo e compreensível, mas é como diz acima o Tiago "os teus filhos seriam, certamente, bons alunos onde quer que estivessem"

tenho uma grande amiga na "gestão" de uma escola dessas, talvez essa mesmo, e lamento aquilo pelo que estão a passar, lamento muito, testemunho a sua dedicação e a sua angústia, mas isso não me impede de perceber e reconhecer que a base desse sistema está errada, é acima de tudo injusto e elitista porque ademais privilegia uma religião... ora... bof!

bom dia :)

Isabel said...

Margarete, fernando f. , Tiago

há uma guerra de números, no caso da escola dos meus filhos, em que há um modelo misto: contrato de associação, contrato simples acredito que a comparticipação do estado seja menor do que para o ensino público ou para aquelas escolas apenas com contrato de associação.
O estado não tem um contrato de associação com esta ou outras escolas por elas serem católicas ou não. A religião não é para ali chamada, exactamente por ser um estado laico.
Os meus filhos podiam ser bons alunos em qualquer escola ou que é muito duferente de terem um ensino de qualidade em qualquer escola. Educação também não é só a história ou a matemática.
Há países, como a Holanda ou a Bélgica em que a percentagem destas escolas é imensa, qq coisa como 30%. Não defendo de modo nenhum esse modelo para Portugal, pelo risco de desinvestimento no sistema estatal de ensino.
Os pais dos institutos de Souselas, S. Martinho do Bispo, Lordemão etc, tudo situações que conheço bem, pais que na grande maioria não podem pagar um ensino privado, aliás boa parte têm apoio social escolar, estão muito preocupados com o mais que possível fecho das escolas. Será um enorme prejuízo para as famílias, para o concelho de Coimbra e para o Estado, se isso acontecer. são alguns milhares de crianças e jovens que não vão ter para onde ir, e se tiverem, vão ser muitíssimo prejudicadas.
Para o Estado "poupar" uns poucos euros. Que os vão buscar aos clubes de futebol!
Finalmente, como escrevi, que pode pagar, deve pagar.

Isabel said...

gralhas:

leia-se

Os meus filhos podiam ser bons alunos em qualquer escola o que é muito diferente de terem um ensino de qualidade em qualquer escola.


quem pode pagar, deve pagar

Anonymous said...

Isabel, não posso concordar contigo.
Penso que devemos, sem dúvida alguma, privilegiar o investimento na escola pública, que conheço muito bem, e que vejo bem tem muitas, mas muitas, lacunas.
Penso que todos temos a ganhar se uma maioria de meninos forem melhor educados e não apenas uma minoria. Penso que teríamos um país muito mais justo e satisfeito se 'misturássemos' todas as crianças e lutássemos todos pela melhoria da escola pública.
Não nos querendo dar a esse 'trabalho', então temos liberdade de escolha, o privado, mas então temos que pagar!
Para mim, é muito mais grave que cortem o financiamento da AECs, que abrangem um número muito maior de crianças, e que estão em risco de acabar para o próximo ano lectivo, do que o financiamento das escolas privadas.

Armanda

margarete said...

penso que esta discussão se dividem duas partes:

1. a urgência (emergência) do momento que é mais uma idiotice deste governo que é de, à pressa, estar a querer poupar dinheiro com este tipo de dinheiro, não deve, não deveria, mas eles não têm problemas destes porque o dinheiro pra a educação dos filhos deles nunca está em causa, nem que seja financiada pelos freeport e BPN's...

2. o "principio" do estado dever/poder financiar estas instituições:

- olha, Isabel, a religião é para aqui chamada sim sra, e volto a sublinhar algo a que as pessoas teimam fechar os olhos - o Estado que garanta o ensino em escolas de vertente religiosa leva a que se pressuponha que se garantam tantas escolas quantos são os credos - não é para ali chamado? é pois! que é que achavas de virem agora estes credos e aqueles que se apetecesse inventar reivindicar o direito ao financiamento publico?
e mais, a religião é ensinada nessas escolas com dinheiros publicos... laicos. não está correcto

há dias li uma conversa num blog qualquer (que posso tentar encontrar) que mostrava nºs comparando quanto custa o financiamento do Estado, em média, de cada aluno no privado, a pessoa fez as contas a todos os alunnos que estão no publico, se custassem tanto como a media do privado: rebentava com todo o orçamento do min_educação

posto isto, o que tenho a dizer é que estou solidária com o momentos que vós, pais, alunos e professores estão a viver só porque o Estado "acordou para a vida" a meio do ano lectivo

margarete said...

alguns lapsus teclae, mas acho que se compreende a msg :)

Isabel said...

Margarete

No colégio dos meus filhos que é católico, a religião católica é ensinada por religiosas da congregação, por isso não acarreta qualquer despesa para o estado. Nas escolas do estado também continua a haver religião católica ou de outros credos.

Armanda

Há duas coisas, uma que tem sido referida pela Margarete, é mudar as regras a meio do ano. No colégio de Arruda dos Vinhos os professores tiveram que fazer um corte de 20 % nos seus salários para evitar que alguns colegas tivessem que ser despedidos a meio do ano.

A segunda, e na parte que me toca, eu não tenho estado sequer nesta luta, porque entendo que felizmente posso escolher e porque teria alternativas (não tão boas na minha opinião), mas sobretudo porque ao contrário de outros colégios, no dos meus filhos a grande maioria dos pais pode pagar. e portanto deve pagar. Não é o caso do de Cernache, Souselas, etc, e muitos pais do Rainha Santa estão nesta luta muito mais por solidariedade para com todos esses, do que em defesa dos seus interesses. Neste momento tenho 2 filhos no ensino publico, na escola secundária mais referenciada, onde existem muitos defeitos que não encontro no colégio onde andaram. que não é menos elitista, pelo contrário. Outras qualidades terá. Democrático seria os pais poderem escolher independetemente da sua situação económica.

margarete said...

"No colégio dos meus filhos que é católico, a religião católica é ensinada por religiosas da congregação, por isso não acarreta qualquer despesa para o estado."

acho isso uma boa maneira de dar a volta aos factos
não acarreta €, como assim? é patrocinado por nós

"Nas escolas do estado também continua a haver religião católica ou de outros credos."
é uma possibilidade que o Estado oferece, facultativa, e não tenho nada "contra", pelo contrário, é para mim a mesma justiça como o ensino de língua materna para filhos de emigrantes, acho bem, desde que os ensinos não colidam com a constituição do país
isso é democracia
é diferente de patrocinar colégios cujos estatutos deixam bem claro que Deus está no centro do ensino, penso que quem deseja isso para os filhos deve deixar o Estado de fora e esquecer a subsidiodependência

Os pais podem escolher independentemente da sua situação económica - têm a escola publica para o ensino de programas oficiais, restam as suas igrejas para o ensino dos credos. A escolha de outras actividades extra programa nacional são muito bonitas, mas justo-justo é que quem deseja mais do que o estado pode dar... pague, para sermos todos iguais

outro exemplo de injustiça como o das actividades extra que a maioria dos patrocinados oferecem em comparação com o publico é o alargamento de horário, seria simpático que todos os pais tivessem como se coordenarem como acontece nos privados, mas não é

a escolher, porque é de escolhas que falamos para corrigir despesas, prefiro que a minha contribuição vá para que as escolas publicas alarguem os horários de cantinas para as crianças que apenas fazem refeições decentes na escola

que se indignem as pessoas que estavam a ser privilegiadas, acho bem, mas que se indignem pela terrível falta de sentido de oportunidade do Estado, provocar "esta instabilidade F'D'P***" (josé mario branco, in FMI) a meio do ano lectivo
exijam escolas publicas nas suas zonas se é esse o problema e culpa de negligência do Estado
mas não se indignem pelo fim do subsidio propriamente dito, é uma afronta a quem anda de autocarro a carregar filhos e sacos de compras e mochilas
temos de começar a ter mais vergonha na cara, quiça
começar a olhar para o lado mais vezes

Isabel, entenda-se que o que digo não é, de todo, qualquer juízo sobre ti, sobre as tuas convicções ou prática social
estou "apenas" a desabafar na tua caixa de comentarios no seguimento do post e da conversa

margarete said...

a minha opinião é "por aqui"

«à borla para eles e a expensas de todos»

Isabel said...

já tive oportunidade no fb de dizer como me agradou esta crónica de opinião da Fernanda Câncio. Séria como ela é.

Estou a ficar cansada desta polémica porque acho que tem sido uma conversa de surdos. Também é triste que seja este assunto que tantos "ódios" colhe quando há injustiças muito maiores. Dá conta de uma sociedade muito pouco pacificada e atrevo-me a dizer "invejosa". Porque não transportar esta polémica para a saúde, com algumas crianças a poderem ter consutórios privados e outras não, e com subsídeos do estado, pois então. Os meus filhos que têm um dos piores sistemas de saúde recebem 22,5 euros para irem a qualquer consulta, quando podiam ir ao centro de saúde. Gostava de ver todos os indignados com os "ricos" a indignarem-se também com isto. Todos para os centros de saude e hospitais.

margarete said...

"Porque não transportar esta polémica para a saúde" diria mesmo também e não "ao invés de"


os ódios, infelizmente há sempre quem se aproveite, usam-se das polémicas para segregar o fel das suas frustrações, enfim...

mas não nos deveríamos prender aí
desisto pouco e gosto que me ajudem a 'ver'porque gosto de compreender as conjunturas, por vezes opino cedo demais e dou-me o privilégio de poder mudar de ideias
a questão da vertente religiosa por ex, uma tia tem conversado comigo, no final ficamos sempre a olhar uma para a outra, a conclusão dela é sempre "olha porque sim, porque é assim que deus..." no dia seguinte lá vamos nós de novo :)
acredito em concordar que se discorda, nunca gostei que isso fosse mote para "acabar a conversa"

as outras injustiças, sem avaliar se são maiores ou menores, educação e saúde são sítios muito frágeis e minados, também devem ser denunciadas, também... nenhuma luta deve pressupor o fim da outra, temos de começar a por tudo às claras e combater, combater... já nem o faço tanto por mim, nem pelos filhos que não tenho, faço-o pelas belíssimas crianças que me têm rodeado, tanto profissional como pessoalmente que, pasme-se, me fazem acreditar em "algo" mais honesto (que é de honestidade, a h. intelectual inclusive, que falamos) e assim mais justo