Violência contra a mulher
Ontem foi o dia, mas nem todos os 365 dias chegariam para debater e acabar de vez com esta desgraça. Particularmente chocantes os resultados de um estudo da Universidade do Minho em relação à violência sobre mulheres de mais de 60 anos: as mais sós e indefesas.
Recordo um caso terrível que diz bem da indulgência com que se tratam estes casos, indulgência que, terrivelmente, tantas vezes começa na própria vítima. Em estudante ocupava, com um grupo de raparigas como eu, os últimos andares de um prédio na Alta de Coimbra, zona de estudantes e de pobres. A casa por baixo da nossa foi sendo ocupada e desocupada por gente quase sempre pouco recomendável. A certa altura viveu lá uma família em que havia uma menina de quatro ou cinco anos que nos visitava amiúde. E que nos punha estupefactos com a conversa, principalmente se havia rapazes (homens) presentes. A menina de quatro anos conhecia todos os termos mais indecorosos e os paleios mais libidinosos, impossíveis de imaginar mesmo num adulto, reproduzindo naturalmente o que ouvia em casa. Não me recordo se na altura pensámos em fazer alguma coisa, mas não teríamos tido tempo porque tão depressa se instalaram como abandonaram a casa.
E outro casal chegou: um casal novo com um bebé de meses. Como o isolamento sonoro era muito deficiente começámos a ter que conviver com conversas impróprias e sinais de agressão. Um dia a agressão subiu de tom, e de que maneira, e a mulher apareceu-nos, aterrorizada, com o bebé nos braços. Completamente descontrolada contou-nos coisas horríveis, de uma violência continuada, enquanto o marido nos batia à porta e ameaçava. Decidimos, com ela, que o melhor era ficar ali aquela noite e no dia seguinte ir com o filho para Bragança, onde tinha a família. E assim foi. O resultado disto tudo foi que quem passou a ter medo fomos nós, a ter medo de subir e descer as escuras escadas e que o homem nos fizesse alguma coisa. O resultado foi a mulher regressar passados uns dias, como se nada tivesse acontecido e deixasse até de nos cumprimentar, como se os algozes fossemos nós. Pouco tempo depois também deixaram a casa.
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