m’avergonho (estamos na Europa)
sexta-feira corei de vergonha pelo meu país, vi-me a repetir, I’m very sorry, sem ter culpa nenhuma. Passo a relatar, acompanhava um professor da Universidade de Bordéus que tinha participado num congresso na Curia e que pretendia regressar nesse dia a Bordéus no Sud. Para quem não saiba, a estação mais próxima da Curia com paragem do Sud é a estação da Pampilhosa, outrora importante entroncamento de linhas de caminho de ferro e que veio a perder importância até chegar à miséria que adiante se verá. O dito professor pediu-nos ajuda porque precisava de trocar o bilhete por um com direito a cama e sabia, de sua experiência, que ninguém na estação da Pampilhosa seria capaz de o entender em francês ou inglês - o que convenhamos é logo um sinal do alto nível dos serviços, já que se trata de uma estação de uma rota internacional. Para lá nos dirigimos de carro e por ali andámos às voltas porque nos parecia estarmos sempre nas traseiras da estação. Víamos uma série de linhas paralelas, umas com ar de abandonadas, outras nem por isso e apenas uma passagem superior de difícil acesso. Ora tratando-se de uma estação onde embarcam emigrantes e outros passageiros que hão-de carregar pesada bagagem, não queríamos acreditar que não houvesse outro acesso. E demos mais umas voltas até que um local nos convenceu que se queríamos chegar à estação era por ali mesmo que teríamos de desbravar o caminho. Ora o professor, sessenta e muitos anos, pesa seguramente mais de 120 quilos, a tarde estava de estufa e tínhamos acabado de almoçar, vi logo que messieur não poderia nunca subir as escadas de acesso à passagem superior e, na verdade, foi ele que sugeriu, galgamos as linhas, esperando que não apareça nenhum comboio. E foi o que fizemos. Depois de meia hora de tradução, interrompida sempre que alguém precisava de comprar um bilhete, que nas bilheteiras só havia um funcionário, atravessamos de novo as linhas e levamo-lo ao hotel; e nem quero imaginar como é que ele se desenvencilhou mais tarde, quando teve que regressar à estação de táxi carregado de malas.
E se para além das malas é alguém com dificuldades de locomoção, maiores que 120 quilos, um carrinho de bebé, uma cadeira de rodas? O funcionário da estação, enfastiado (de onde saíram tamanhos chatos?), não sabe/não responde. Que andem mais vinte quilómetros e que vão apanhar o comboio a Coimbra-B (que também deixa muitíssimo a desejar, mas isso fica para outro dia).
E se para além das malas é alguém com dificuldades de locomoção, maiores que 120 quilos, um carrinho de bebé, uma cadeira de rodas? O funcionário da estação, enfastiado (de onde saíram tamanhos chatos?), não sabe/não responde. Que andem mais vinte quilómetros e que vão apanhar o comboio a Coimbra-B (que também deixa muitíssimo a desejar, mas isso fica para outro dia).
3 comments:
na estação de Coimbra B um velhote pede informação acerca da linha onde deve aguardar pelo seu comboio, o funcionário aponta-lhe o monitor e responde "a informação está aí"
com grande espanto meu, dei por mim corajosa a dar um sermão ao funcionário e a indicar o velhote à linha devida :S
É no que deu, o paulatino desinvestimento nos caminhos de ferro.
E eu que gosto tanto de viajar de comboio, fora de Portugal, claro.
Uma vergonha o estado dos nossos caminhos (ou serão carreiros?) de ferro!
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