31.8.10

Ti Rêgo



Nunca o Ti Rêgo imaginou ver-se escrito num blogue. Nunca Ti Rêgo imaginou um blogue, internet, mesmo a televisão. apenas um rádio que o meu pai lhe deu. Ti Rêgo era natural de uma aldeia da Serra, que a falar verdade não existe porque nunca existiu, é apenas um buraco na estrada, que obriga os poucos carros a saltar antes da curva seguinte. Era órfão de pais, de filhos, e de irmãos, apenas lhe restavam umas sobrinhas que tratavam mal o velho. Por isso se nos afeiçoou. Tinha de seu uma égua brava e um cão, possivelmente chamado de leão, porque quase todos os cães dos pastores da serra se chamam leão, coisa mais estranha (ou farrusco se muito feios). Não me lembro como nos veio parar porque não me parece que tenha sido por resposta a anúncio mas, a certa altura, o meu pai lembrou-se de ter um rebanho, e como não era pastor teve que contratar um. E o Ti Rêgo entrou nos nossos dias. Que o víamos pouco, andava pela serra, onde os pastos são ricos, com o cão leão e o rádio que o meu pai lhe oferecera. E quando descia ao povoado, montado na égua brava, e nos acompanhava ao café, dizia esta coisa extraordinária, oh meninos deixem-me pagar que eu já nem me alembra de gastar dinheiro.


E agora, sempre que passo na terra que é um buraco na estrada, digo aos meus filhos, aqui era a terra do Ti Rêgo.

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