17.12.09

los hondos tajos, las encrespadas gargantas, los imponentes cuchillos, los erguidos esfayaderos*


agora devia chamar à inspiração outro Miguel, o Torga. Fico-me pela escrita comezinha que me é própria. Em Maio, como brevemente aqui contei, andei pelas arribas do Douro. Ali, como noutros locais do Portugal agreste, enchem-se os olhos de paisagem e a alma de interrogações, como se vive aqui, tão longe de tudo, onde a cada dia sobram mais velhos, onde a cada dia cresce o deserto? E fica-me uma secreta admiração por quem acede ao desafio de levar para a frente aquelas terras. No Freixo, como em Marvão ou Monsaraz, como nalguns concelhos do Alto-Minho, só o esplendor da paisagem e o turismo poderão trazer algum desafogo, e a maioria dos autarcas já compreendeu isso mesmo. Hoje, no correio um envelope com ”Presidente do Município de Freixo de Espada Á Cinta” como remetente. Fico na dúvida, não me lembro de ter por lá causado algum desacato, tirando isto, nem perdido nada, nem reclamado de nada, nem... Nada disso, apenas um postal de boas festas.





* Miguel de Unamuno "Las Arribes del Duero"

1 comment:

fernando f said...

Deixo pastar os olhos pela paisagem
Enquanto a flauta exalta o bucolismo;
Por sobre cada abismo,...
MIRANTE, Diário lX, M.Torga.