10.12.09

limpezas

Henry Cartier Bresson


Anda para aí um sururu sobre se é bem ter empregada doméstica ou se pelo contrário está out ter empregada doméstica, porque os nórdicos não têm empregada doméstica e têm uma imensa qualidade de vida apesar de não terem empregada doméstica. E era o que me faltava a mim era ter que pautar o que tenho ou deixo de ter porque os nórdicos têm ou não. Uma vez, estava a falar de azeite com uns suecos, e percebi que era como estar a falar de ovos mexidos ou de praticar golfe com a minha gata. Ora, será por isso que vou deixar de gastar uma garrafa de azeite por semana? ou vou ter que começar a gostar de arenque, ou de deixar de tomar banho e de fazer a cama porque os nórdicos o (não) fazem? Eu gosto de uma cama feita a preceito e não de um edredão dobrado às três pancadas, gosto de comer sopa ao jantar e de me sentar para almoçar com faca e garfo, e de usar a roupita passada a ferro. E ao sábado há coisas muito mais interessantes a fazer do que aspirar e limpar o pó, como seja brincar com os filhos pequenos. E se puder pagar a alguém para fazer essas minudências por mim; minudências sim, entrem numa fábrica qualquer e comparem a agrura do trabalho. A isto também se chama fazer funcionar a economia. E sim, sou classe média, mas não me venho para aqui gabar de ter bebido um Barca Velha ao jantar (nem podia), como outros por aí. A senhora que trabalha em minha casa, por quem tenho o maior respeito (como podia não respeitar imenso alguém que transforma o caos matinal numa coisa linda de se ver, e já agora, de se cheirar), é portuguesa como eu, tem filhos que frequentam a mesma escola que os meus, com as mesmas expectativas em relação ao futuro, tem carta de condução como eu, e faz o trabalho dela enquanto eu faço o meu. Tudo o resto é preconceito.

2 comments:

fernando f said...

Dos nórdicos tempos houve em que tudo era de invejar, a democracia o nível de vida e as nórdicas. Depois com o advir da democracia a coisa foi-se esbatendo, e até as nossas raparigas já chegam onde antes só chegavam as estrangeiras.
Ah...e gosto de dormir enrolado no edredão.

Isabel said...

quanto às nórdicas havia muito deslumbramento :), acho eu