26.11.09

Um exercício

Dorothea Lange


Vindo do Rui , recebo o exercício abaixo (bastante mais abaixo, não se percam na verborreia).


Estas coisas cheiram-me sempre a adolescência tardia. Pertencem ao tempo em que enchíamos cadernos com inquéritos de perguntas vãs, porque na verdade as únicas que interessavam eram “Amas alguém?”, “Quem?”. O amor, o amor. Era também a época dos livros de autógrafos. Que não se destinavam a recolher mensagens ou assinaturas de famosos, porque, por um lado, ainda não havia o conceito de famoso dos dias de hoje, e, por outro, os verdadeiros famosos nunca chegaram à vila caquéctica onde eu morava.

Enchiam-se os livros de autógrafos de mensagens de amizade de amigos e amigas, de versos a preceito por entre muitas flores e corações e outras manifestações artísticas de quem para isso era dotado, que não eu. Eu também tive um livro de autógrafos, deles (dos autógrafos) o mais precioso era de um rapaz, vagamente meu namorado, e que se tornou muito mais namorado no dia em que estupidamente resolveu morrer de acidente de automóvel. Pois, certa vez, andava o meu livro de autógrafos a girar no afã de recolher amizades, quando volta às minhas mãos com a página do dito namorado morto coberta de beijos de batom. Foi um segurem-me que eu mato-a. Nunca mais vi o livro, decerto perdido numa das muitas mudanças de que é feita a vida.


Completar as seguintes cinco frases:

Eu já…
Eu nunca…
Eu sei…
Eu quero…
Eu sonho…


Eu já me perdi na rua de Santa Catarina, em Montreal, Québeque, porque não percebi que tinha saído do metro em sentido errado, e ao princípio achei muita graça porque estava na Village, o bairro gay, pleno de joie de vivre, mas continuei a andar e a andar e há muito que a joie de vivre se tinha ido e já só armazéns e terrenos abandonados. E quando, aproveitando a luz de um candeeiro, olhei para o mapa, vi que estava a andar ao contrário, na Rua de Santa Catarina, quinze quilómetros de lonjura, em Montreal, Quebeque. Hey babe, take a walk on the wild side

Eu nunca comi pernas de rã.

Eu sei muito pouco de quase tudo.

Eu quero ir e quero ficar e sempre assim fui, em jovencita chamavam-me Isabel Variações, sempre a querer ir e ficar, a só estar bem onde não está.

Eu sonho demasiado.

Eu não passo isto a mais ninguém.

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