17.6.09

Das famílias de acolhimento

Oiço na rádio um anúncio a uma associação do norte que pretende sensibilizar os portugueses para o problema das crianças que, por motivos vários, são retirados às famílias e que, segundo o anúncio, necessitam de uma família de acolhimento. Não ponho em causa as boas intenções dessa associação que nem conheço, ouvi hoje pela primeira vez esse anúncio. Mas as crianças em risco, como todas as crianças, não precisam de uma família de acolhimento, precisam de um futuro. E raramente esse futuro é acautelado, ou acautelado da melhor forma pela passagem por uma família de acolhimento. Comecemos pela família e pensemos que acolher uma criança não é encarado como uma maneira de aumentar os proventos familiares. Mesmo que à partida se esclareça que o acolhimento é temporário, é lícito esperar que ao fim de uns meses ou, mais realisticamente, de uns anos a família não tenha criado laços muito fortes com a criança (e vice-versa) e que a deixe partir alegremente para outro futuro? Os casos que a comunicação social tem explorado até à exaustão dão a resposta. Se uma criança foi retirada à família biológica por alguma razão (forte) foi. A maioria dessas crianças são muito problemáticas e apresentam muitas vezes défices de desenvolvimento importantes, estará a família de acolhimento preparada para lidar com uma criança assim? Garantirá à criança todo o apoio especializado de que necessita? Quem vê os anúncios de organizações que lidam com crianças vê normalmente bebés ou meninos pequenos, lindos e sem problemas. Não vê uma criança que com um ano e meio nunca tinha saído do berço ou uma criança de quatro anos que diz que a mãe chupa a pila do pai.
No interesse da criança espera-se que a segurança social e os tribunais façam depressa o seu trabalho e a criança possa regressar ao um futuro na sua família biológica ou numa família adoptiva. E sabemos, quanto mais não seja pelas histórias da Tv, que mais facilmente é esquecida uma criança que esteja entregue a uma família, a segurança social é exímia a considerar uma criança “arrumada”. Por tudo isto, embora possa parecer que a solução de uma família de acolhimento é mais humana, a criança e o seu futuro estarão melhor entregues numa instituição. Desde que a instituição cumpra o seu papel quer de proporcionar aos meninos um ambiente o mais equilibrado e afectuoso enquanto os tem à sua guarda, quer, e se calhar sobretudo, trabalhando com a segurança social e os tribunais (e pressionando-os) de modo a que agilizem o futuro desses meninos.

2 comments:

Jorge Freitas Soares said...

Cheguei cá por acaso.

Parabéns pela clareza de ideias e lucidez.

Jorge Soares

Isabel said...

Obrigada, Jorge :)