21.4.09

tecnicamente virgem


Até hoje me espanta essa himenolatria. Era a honra da mulher, que horror. Ainda existe, sabia? E existe aos montes, é de cair o queixo, de vez em quando tomo um susto. Pittigrilli, um escritor que hoje ninguém lê, mas andava em voga e de que as moçoilas não podiam nem chegar perto, mas cujos livros davam sopa na biblioteca do meu pai e na do de Norminha - mais um ponto para minha família, nossas famílias, aliás – dizia mais ou menos que, em vez de se preocuparem tanto com a integridade dessa honra, melhor fariam as mulheres italianas em lavá-la com água mesmo, e não com sangue, pelo menos uma vez por dia. E, de fato, é triste, acho que como ele próprio ainda disse, viver numa sociedade em que a honra feminina é portada entre as pernas, que coisa mais besta, meu Deus do céu.

A Casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro

3 comments:

henedina said...

Himenolatria ainda existe? Eu acho que não.
Como diz um amigo meu só me dava mais trabalho...mas sabe que se pode fazer himenectomia?
É a honra retirada sob sedativo.
Deve ser mais ou menos como deixar um homem fazer amor connosco sem o amarmos, sob sedativo. :)

Isabel said...

Nos Estados Unidos há raparigas que usam uma aliança de virgem, raparigas cuja maior preocupação dos pais é que elas se mantenham virgens até ao casamento.

henedina said...

Pois eu acho Isabel que ser virgem neste momento em Portugal é handicap. É anormal, é patológico. É viver na fantasia e que a maior fantasia é que o corpo é só para partilhar com o homem que amamos.
Não é o não valorizar é mesmo o desprezar ser assim. Como se houvesse uma normalidade do sentir e do agir e uma anormalidade se não se pertencer a norma.
E depois quando na vida real se é genuinamente o que se é, mesmo aqueles que nos pareciam diferentes são tão politicamente correctos, tem uma forma suave de se moverem. Privilegiando e preferindo o consensual, sem humor e sem diferença, como velhos, como gastos, como vitais mas sem vitalidade. De vermelho a esbatido. Tão burgueses, cumprindo horários com medo de desagradar. Com medo das mulheres, com medo, eu sei lá. Tão diferentes e tão iguais a todos. Nada, vendo bem. É lindo ser diferente. Para mim é tão importante ser diferente não se importando de expressar o corpo que não é vergonha gostar e querer amar com tudo e o corpo é essencial como, não o expressar com o corpo e só o expressar com quem queremos dar carinho, satisfazer o desejo, eu sei que é um erro chamar pelo nome mas amar.
E isto não é literatura de cordel, não é romance. Pelo sonho é que vamos. Bem, se eu não deixo de sonhar tenho que ser uma mulher forte. Porque são tão refinadamente maus. Tem medo de mim? Tem medo da sombra. Como diz um grande meu amigo de Coimbra, já tem inimigos vê como é importante.
Ocorreu uma coisa que me magoou muito uma pessoa que tinha o dever de me dar apoio não me deu apoio e eu sempre lhe dou. Até qdo sou critica é porque me importo. E não me deu apoio porque achou que eu não sou confortável. Houve um silêncio total por não me dar apoio e comentaram imenso comigo porque sabem qto me doi.
E doi, e doeu mas eu continuo a ser optimista e a acreditar que ser diferente na vida, não ser consensual, ter a coragem em ser diferente é como ter muito sexo ou sexo dirigido, ou sem sexo não diz respeito a ninguem só aos proprios. Ser consensual ou ser catalizadora. Ser perfeita ou "puta" (detesto esta palavra e leviana aos homens só se chama a ultima e eles vendem-se tanto).
Mas aí é que está neste momento ser virgem não é ser perfeita é pelo contrário ter defeito e é tão castrador chamar puta a mulher que expresse o desejo como desprezar uma mulher que tem desejo mas estúpidamente o guarda para quem não merece. Porque nenhum homem merece as fantasias de uma mulher.
Têm medo, fogem, não respondem com a verdade, traiem-nos, pensado bem nunca nos convidaram para nada foram as circunstancias mas convidam as outras que tem menos diferença, mas não mais inteligencia ou caracter.
Usar aliança de virgem é degradante mas não mais degradante que ainda me desiludir com o nojo absoluto do politicamente correcto. Não, não estou mais disponivel para dar a apoio a quem não me dá apoio.