75%
Parece-me um bom número. Porque a coisa começa mal e bem mais atrás. É normal encontrar numa turma de secundário mais de 50 % de alunos que querem ser médicos, desses 50 % nem 5 % o vão conseguir. Nas turmas de humanidades muitos alunos querem entrar em Direito embora devam ter como certo o desemprego no fim do curso, mas com dezoito anos é-se simultaneamente inconsciente, idealista e optimista; alguns podem querer ser historiadores (mas mais facilmente irão trabalhar num supermercado), poucos muito poucos querem ser professores de liceu. Na psicologia idem, um curso muito atractivo, mas com um índice de desemprego assustador. Nos últimos anos algumas engenharias e bons cursos de gestão e economia estão em alta, mas nem sempre foi assim. Dos poucos rapazes e raparigas que indicam como primeira escolha, à entrada no ensino superior, as ciências exactas ainda menos são os que querem vir a ser professores de meninos ou adolescentes.
Sempre me fez muita confusão ver, primeiro como aluna e depois como colega, engenheiros a ensinar matemática, economistas a ensinar matemática ou disciplinas relacionadas com a sua licenciatura no secundário, engenheiros químicos ou farmacêuticos a darem física e química ou ciências, arquitectos na educação visual. Não será errado admitir que foram para o ensino porque não conseguiram singrar nas suas vocações por falta de investimento ou de oportunidade, mas também porque estava mais à mão ou porque lhes dava mais tempo livre para apoio à família ou outras actividades (ainda há bem pouco tempo o dia livre era uma instituição e as férias mais que muitas) para além da segurança de se ser funcionário público. Mas não, certamente, sem alguma frustração à mistura.
Depois, e não menos importante, para se dar aulas a adolescentes/jovens (que muitas vezes não são pêra-doce) é preciso gostar deles, é necessária uma grande capacidade de empatia, é muita psicologia junta. E muitos dos que estão no ensino não têm essa capacidade nem vontade, são até nulos, como poderão gostar de dar aulas? Se somarmos a tudo isto a perda real de alguns privilégios ocorrida nos últimos tempos, e que eram apanágio exclusivo desta classe de profissionais, alguém se admira que 75% dos professores digam agora que escolheriam outra profissão. E já agora, qual?
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