Os meus tios mortos
Foram sempre mortos estes meus tios, dois irmãos do meu pai, um morreu anjinho e o meu pai, que nasceu depois, herdou-lhe o nome, coisa esquisita ficar com o nome do irmão morto, como se não houvesse outro nome. O outro era já um rapagão quando adoeceu com carbúnculo, que naquela época não era coisa de terroristas mas, fatalidade comum de quem convivia com o gado, e o carbúnculo o levou.
Um dia em que vasculhávamos as arcas escuras da casa dos meus avós, descobrimos, no meio das mantas, dos cobertores de papa e das bolas de naftalina, uma fotografia ricamente emoldurada, a fotografia de um menino de calções e camisa, meias até ao joelho, uma ferida no canto da boca, rodeado de rendas e flores, terço nas mãos e estranhamente adormecido. O meu tio morto, que por certo fez parte da decoração da sala da casa até alguém, talvez a minha mãe, o esconder dos nossos olhos curiosos, que meninos mortos não eram coisas para crianças da cidade.
Um dia em que vasculhávamos as arcas escuras da casa dos meus avós, descobrimos, no meio das mantas, dos cobertores de papa e das bolas de naftalina, uma fotografia ricamente emoldurada, a fotografia de um menino de calções e camisa, meias até ao joelho, uma ferida no canto da boca, rodeado de rendas e flores, terço nas mãos e estranhamente adormecido. O meu tio morto, que por certo fez parte da decoração da sala da casa até alguém, talvez a minha mãe, o esconder dos nossos olhos curiosos, que meninos mortos não eram coisas para crianças da cidade.
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