Uma mulher moderna
Nobuyoshi Araki
Olhei-me longamente, pensando em todas estas coisas, e depois, repentinamente, com a comprida mão ossuda dei uma pancada na testa. Achara. O quê? A maneira de transformar a minha veleidade em afirmação. O meu erro fora, até então, acreditar na vitalidade pura e simples, ou seja, na natureza, que segundo algumas pessoas, faz sempre bem aquilo que faz. Pois bem, tinha que me livrar daquela ilusão, abandonando as incertezas da natureza, dada a caprichosos acasos pela infalibilidade da produção planificada. Tinha, em poucas palavras, de ser uma mulher moderna. A modernidade definia eu desta maneira: a vida não deve ser vivida, mas produzida. Basta pois de amor conjugal, de afecto maternal, amizade, cultura “natural” e “espontânea”. De então em diante, as expressões chamadas da minha personalidade tornar-se-iam “objectos” meticulosa e racionalmente planeados.
Alberto Moravia “O Paraíso”, da série Os Livros que ando a ler
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