18.10.06

Eles são mesmo assim


Uns posts abaixo relatei episódios da minha passagem por Paris durante seis semanas deste verão. O relato ficou muito incompleto porque a certa altura o calor era tanto e andava tão ocupada a beber um copo de água a cada quinze minutos, como me ordenavam os editais do “plan canicule”, que não me sobrava nem tempo nem paciência para escrever.
E uma coisa que impressionou em França, mesmo sendo portuguesa, e sobre a qual tencionava escrever é a bendita burocracia, que como lembra o jornalista Ferreira Fernandes numa crónica da última “Sábado”é uma bem sucedida exportação francesa bureau – bureaucratie.
Eles são mesmo assim: meses antes de ir para lá já não sei quantos funcionários se atarefavam e me atarefavam na elaboração de uma entidade mítica (mítica porque nunca a vi) chamada dossier, o meu dossier – temos que ter cá todos os seus documentos com muita antecedência porque senão não temos tempo de completar o seu dossier e a sua vinda fica sem efeito. (dos documentos constava por exemplo o nome, data de nascimento e ocupação dos meus sogros). E julgam que todo esse zelo se traduziu em alguma coisa de bom ou proveitoso para a minha pessoa? Não! Uma semana depois de lá estar ainda me faltavam duas coisas essenciais: o dosímetro, um objecto sem o qual ninguém que no seu trabalho esteja exposto a radiação ionizante deve trabalhar, e o badge que me permitia circular pelo hospital sem ter que andar com alguém atrás de mim. O dosímetro, consegui-o com a ajuda de um colega, ao fim de uma tarde escada acima, escada abaixo, bureau aqui, bureau acoli, acompanhada pelas exclamações impróprias do meu colega, ainda falta uma assinatura, sim o seu dossier está completo mas ainda tem que passar pelo messieur X… Pelo badge espero até hoje…
Que diferença do meu estágio num hospital de Basileia onde até precisei de uma autorização de residência por a Suiça não pertencer à CE. Mas foi tudo! No primeiro dia de trabalho levaram-me a um gabinete, tiraram-me uma fotografia, fizeram o badge que servia para me identificar, abrir portas e pagar a cantina, entregaram-me as batas, os dosímetros e em menos de meia hora estava pronta para começar a trabalhar.

Mas, apesar de tudo, tenho que concluir como o cronista da “Sábado” citando Ted Stanger* “A França é uma URSS que deu certo”.


* Ted Stanger , americano autor de Sacrés fonctionnaires! Un américain face à notre bureaucratie.

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