5.6.06

Dos médicos

Os exemplos são tantos que caímos na tentação de os tomar como regra. A queixa mais vezes ouvida prende-se com a parte humana. E nem é preciso que me contem, basta ter tido o azar de passar um bocado, pequeno que seja, nos serviços de urgências de um qualquer hospital (público). E quanto mais pobres, velhos, vulneráveis mais fácil é que os Srs Drs os maltratem, porque não sabem que comprimidos andam a tomar, porque não seguiram o tratamento correctamente, porque nem sequer percebem o que se lhes pergunta.

E mesmo quando se não é velho, nem vulnerável, nem se está muito doente a probabilidade de sermos mal tratados é bastante apreciável. Um dia fui parar, quase que por engano, a uma consulta de especialidade num hospital público e tive que aguentar despida, deitada na maca, que o Prof acabasse de contar aos Internos a caçada ao javali do último fim de semana, para depois ser observada. Valeu-me o javali que fugiu e deixou o Sr. Prof de mãos a abanar.

E o que irrita, o que revolta, é saber que nenhum destes malcriados senhores se comporta assim nos seus consultórios privados, aí são todos atenção e mel. Que rapidamente perderiam a clientela. Que ninguém no seu perfeito juízo, lhes daria uma pipa de massa para ser maltratado. A deontologia do paga.


Felizmente há muitos exemplos do contrário, quando estive grávida, fui seguida, e bem, no sistema público. E sempre recordo a vez em que estava a servir de intermediária num telefonema para um famosíssimo cirurgião num hospital público e ouvi do outro lado “O sr. Professor não pode atender porque está a dar o biberão a um bebé que operou, mas quando terminar liga-lhe.”


Mas os maus exemplos são tantos que caímos na tentação de os tomar como regra.

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