21.4.06

O Massacre de 1506 e o Rossio de 2006

Vou aproveitar os meus 15 minutos de hoje para dizer uma coisinha muito politicamente incorrecta. Felizmente para mim quase ninguém chega a este blog e 99,9% das pessoas que por aqui andam estão-se marimbando para o que eu penso ou deixo de pensar.
E o que eu queria dizer é que, respeitando as convicções alheias e não duvidando das excelentes intenções de quem lá esteve, considero aquela coisa das velinhas no Rossio no dia 19 uma treta.
O que me faria acender uma vela? Afirmar a minha civilidade, para que ninguém duvide do repúdio que sinto pela barbárie de 1506? Será necessário?
Gritar a minha solidariedade para com as vítimas do massacre? Então porque não fazê-lo por todas as vítimas de todos os massacres de todos os dias?
Expiar as minhas culpas? Absurdo. Não me sinto minimamente responsável (nem sua herdeira) pelos meus antepassados do Sec XVI nem pelas atrocidades que eles cometeram. Que se assim fosse teria também que arcar com os pecados dos séculos anteriores e com os dos que se lhe seguiram … até ao dia de hoje.
Manifestar a minha humanidade? Mas se tenho oportunidade de o fazer em cada segundo de cada hora da minha vida e na maioria das vezes não o faço…
Ah, a boa consciência …

2 comments:

Luís said...

Uma treta é o amor. É uma treta. Uma vela contra o esquecimento é uma vela. Uma vela que arde onde outras chamas outrora. Uma vela que lembra chamas insuportáveis porque a memória é insuportável. Tudo será esquecido. Em nome de nada. Fazer com que não seja assim não é uma treta. Ardeu uma vela. Uma vela que fosse. E não foi uma treta. O cravo que puseste é uma treta? É um cravo. Uma treta. Mas quando o puseste porque foi?

Isabel said...

Luís, os símbolos valem o que valem. Não é por eu pôr uma vela hoje que não me vou esquecer amanha. E o perigo é quando se fica só pelos símbolos...