7.3.06

Adolescentes (II)

C., 15 anos, uma estranha mistura de raças, vivia numa instituição. Dizia-se que era filha de uma relação entre uma jovem muito rica e de um seu serviçal. Dizia-se. Dizia-se que a mãe não a tinha reconhecido e que ao fim de pouco tempo o pai também desaparecera deixando-a a uma ama, que por sua vez quando lhe faltou o dinheiro para as fraldas e para o leitinho decidiu que não tinha qualquer obrigação de a criar. Dizia-se.
De certo sei que C. aos 15 anos tinha como verdadeira obsessão vir a encontrar os pais. Na altura, passava na televisão um programa de encontrar pessoas e a C. todos os dias me falava em como tinha que lá ir. C. foi minha aluna após um ano que passou parcialmente num serviço de psiquiatria. Foi-me apresentada com o rótulo de esquizofrenia. Uma vez por semana dava-lhe uma aula individual e acabei por ter com ela uma relação muito chegada. Era uma rapariguita tímida e desintegrada que se sentia em segurança junto a adultos. Muitas vezes pedia-me boleia para casa e conversávamos… Deixei de dar aulas e perdi-lhe o rasto. Encontrei-a três anos mais tarde, na rua, muito feliz com um bebé de colo, “é o meu menino”. Já não vivia na instituição e obviamente não tinha encontrado os pais, mas também não fiquei a saber onde vivia. Pobre C., pobre menino.

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