21.2.06

Os (meus) cafés de Coimbra

Se tivesse que eleger o meu café de Coimbra, seria o Tropical, embora agora não vá lá nem uma vez por mês, e se calhar por isso mesmo já quase não conheço lá ninguém. Quando vim para Coimbra, passei pelo GEFAC (para quem não sabe o GEFAC é um organismo autónomo da AAC que divulga etnografia) e as pessoas do GEFAC iam ao Pigalle. Mais cá fora do que lá dentro, ali se passavam as horas a seguir ao jantar ou antes dos ensaios. O Mandarim era das gentes de direita, isto nos anos 80, que antes não era assim, mas como eu tinha alguns amigos nessa secção também por lá me arrastava de quando em vez. Em frente o Tropical, intelectuais de esquerda, nunca percebi porque é que o GEFAC fazia sociedade à parte, e o Académico sem clientela muito bem definida (acho eu).
Quando me transferi para o TEUC transferi-me também de café, Tropical, pois claro.
A minha entrada no TEUC coincidiu com a mudança para a Alta e aí havia novas regras para o pessoal, éramos os gloriosos e irredutíveis habitantes das Repúblicas do Gueto da Alta e de preferência por lá nos devíamos manter. Às vezes descíamos em manada à Praça, ao Tropical. E eu continuei a andar bastante por ali à conta do TEUC, mas havia quem não saísse do gueto nem para ir às aulas à Universidade ali ao lado, sobretudo para ir às aulas. Os cafés da Alta eram sujos e mal frequentados, um dia a minha República, comprou um frigorífico em segunda-mão ao dono de um desses cafés e trouxemos de bónus uma invasão de baratas. No Califa, chegou a haver sessão de tiros, e um dos proprietários, que a partir daí passou a ser o não sei quantos Bang Bang, a seguir foi preso por envolvimento em qualquer negócio menos lícito. O Mono e o café do sr. Zé eram um nojo. E era no meio dessa decrepitude, prolongamento das Repúblicas, que nós gastávamos as nossas horas e nos tornámos os adultos chatos e responsáveis que somos hoje.

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