14.2.06

No dia de S. Valentim

Um dos poemas de amor de que mais gosto

" Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços."

Eugénio de Andrade

3 comments:

Luís said...

Isabel, não acredites nessa treta de pássaros a nascer entre os dedos. Se nascessem pássaros entre os dedos a vida era insuportável.
Boa sorte para as pequenas coisas.

Luís said...

Ah, e desculpa perguntar: já te beberam os olhos, inadvertidamente, não foi?

Isabel said...

Se não nascessem pássaros entre os dedos a vida era insuportável.

E não, Luís; nunca ninguém me bebeu os olhos, sempre tive muito cuidado para que isso não acontecesse.

E as pequenas coisas não precisam de sorte porque não querem deixar de ser pequenas. Acho eu...