28.2.11

Censos 2011 – uma história à portuguesa


parte da história já foi aqui contada, mas eu, por mero acaso, conheço outro lado. Um lado mais português, por assim dizer.
Acima dos recenseadores estão os delegados municipais e ainda acima os delegados regionais. Para ambas as categorias também procedeu o INE a um recrutamento público. Deveriam os candidatos ter mais de vinte e cinco anos e, idealmente, possuir uma licenciatura. Os contratos seriam por seis meses: Janeiro a Junho, com um vencimento mensal em torno dos 1100, 1200 euros.
Um licenciado, com não sei quantas pós-graduações em cima, candidata-se na internet e é convocado por telemóvel (também tinha registado o seu email) para uma sessão colectiva de selecção que durará toda uma tarde de um feriado de Dezembro. Na sala encontra mais uns quinze candidatos como ele, alguns com pós-graduações como ele, quase todos desempregados como ele. A tarde passa nos processos, que julga habituais, de verificar quem tem perfil para quê, entrevistas entre os candidatos, perguntas mais ou menos difíceis, mais ou menos provocatórias, por parte dos seleccionadores. Começa a estranhar quando no fim a equipa de selecção agradece a presença e informa que apenas os candidatos seleccionados serão contactados, porque “infelizmente não temos meios para os contactar a todos, como mereciam”. Esclarecem ainda que este é um processo em coordenação com as autarquias e que os seleccionados têm que ter também o aval das autarquias, dos presidentes das câmaras. Os dias passam e não é contactado, resigna-se. Encontra na rua outros que estiveram na sala com ele e nenhum foi contactado. Estranha, até achou que tinha feito boa figura. Abre a página do INE e lê um comunicado referente ao recrutamento de delegados, agradecem a disponibilidade e asseguram que todos os candidatos irão receber uma resposta no final do processo de selecção. Fica o licenciado mais descansado, se afinal eles até o tinham contactado para a entrevista, se até tinham o seu email, porque que raio não teriam meios para o contactar? O tempo passa.

Epílogo: o licenciado nunca recebeu qualquer comunicação, mas vem a saber que no seu concelho foi seleccionado um líder da juventude do partido no poder autárquico, estagiário de advocacia, mais alguém profissional destes tachos e possivelmente da mesma cor, nenhum dos que esteve com ele naquela tarde de feriado. O licenciado vem ainda a saber que noutros concelhos, o procedimento foi o mesmo, foi escolhido, o primo, o amigo, o primo do amigo, o camarada de partido.

3 comments:

Anonymous said...

Esta história passa-se no Concelho de Vila Pouca de Aguiar (Vila Real):

Candidatei-me a recenseador nos Censos 2011 e nunca mais fui contactado. Descobri mais tarde que um dos critérios de selecção era ter algum tipo de ligação com o Presidente da Junta de Freguesia (filho, amigo, amante...) pois só esses eram seleccionados para a formação. O mais ridículo é que no final da formação os candidatos a recenseadores são avaliados. Se foi apenas seleccionado o filho do Presidente da Junta para ser recenseador numa junta de freguesia, este é obrigado a ser aprovado na formação...senão aquela zona ficará sem recenseador...certo?

Indignado com a situação, liguei para o INE. A pessoa com quem eu falei disse que era perfeitamente normal serem seleccionados os filhos dos Presidentes da Junta, desde que estes preencham os requisitos para serem recenseadores.Passo a citar: "O Presidente da Junta, como pessoa responsável que deve ser, seleccionou quem achava mais competente para o cargo...neste caso o filho dele. Uma pessoa não pode ser prejudicada só por ser filho do Presidente da Junta! Você não é mais do que ele!"

Incrédula, respondi que ele não podia ser prejudicado por ser filho do presidente da Junta...mas podia SER BENEFICIADO!


É importante referir que sou licenciada, estou desempregada e mesmo assim preferiram dar o lugar de recenseador a pessoas que trabalham ou já trabalharam (na Junta de Freguesia, na Câmara..).Relativamente a este ponto, o INE tem a seguinte opinião:" Não quer dizer que por ter o dia todo livre faça melhor o trabalho do que uma pessoa que só esteja disponível a partir das 17h30m.

Achei melhor desistir...

Isabel said...

anónimo de Vila Pouca de Aguiar, tem toda a minha indignação e toda a minha solidariedade

Anonymous said...

E não perdeu nada, dois meses de trabalho a bater de porta em porta, a preencher questionários por net, ir levantar onde as pessoas mandam porque "nunca estão em casa e, no fim, mais ou menos 550 €, é pera doce. O dinheiro faz falta e cai sempre em é claro, mas uma exploração autentica! Já tive muitos par time´s . Este, muito mal pago.