26.9.06

Diário de França: Gif-sur-Yvette







Gif-sur-Yvette, uma terrinha ao sul de Paris, no vale do Yvette, o rio, pouco mais de meia-hora do centro de Paris no RER. È, segundo o folheto que me deram no Turismo, uma terra verdadeiramente antiga, sec IX, localizada nos caminhos Paris-Versalhes-Chartres, daí a sua importância. Hoje Gif, é uma pacatíssima vila, a estação dos comboios RER, a igreja, uma estreita rua principal com duas padarias, o talho, a tabacaria, uma mercearia, o correio, duas brasseries, o vendedor de legumes e frutas, a mairie, e pouco mais. Á volta hectares e hectares de parques e bosques. Domaine de Butom, um frondoso e imenso bosque com um château imponente, alberga um grande centro de investigação do CNRS; imagino que deve haver imensos investigadores e estudantes nesse centro, mas não é por isso que Gif tem mais agitação, aparentemente chegarão de Paris pela manhã e partirão ao final do dia.
E depois a floresta, onde mergulham as vivendas, os campos de jogos mais que muitos e as escolas, onde os habitantes fazem jogging, piqueniques e passeiam de bicicleta com as crianças. Ao domingo de manhã um mercado de coisas boas, de frutas e legumes de agricultura biológica a preços proibitivos.

Diria que as gentes daqui vivem muito bem, por mim, reconhecendo o-quase-paraíso prefiro locais mais animados.

25.9.06

Diário de França: os livros




Livros – acabei de ler “A obra ao negro” da Marguerite Yourcenar, em português. Feliz coincidência, ontem passou no Arte um belo documentário sobre os Médicis, a mesma época, os mesmos problemas, a Santa Inquisição, o monstruoso poder da Igreja, a ascensão do luteranismo.
Pelo meio fui lendo jornais e revistas francesas, mas mesmo os jornais mais credíveis não escapam à histeria Coup du Monde (para ter acesso a outras notícias só vendo a CNN). Ontem comprei o Liberation mas, a mesma desilusão. Decidi que não gasto mais dinheiro em jornais e hoje na tabacaria comprei o mais que clássico “Les liaisons dangereuses” do Laclos, numa edição da GF Flammarion, por 5.6 euros. Para além do mais está bem dentro do meu estado de espírito: “On s’ennuie de tout, mon ange, c’est une loi de la nature; ce n’est pas ma faute”.

22.9.06

Diário de França: Coupe du Monde



9 de Julho - Coupe du Monde, um pesadelo – até ao jogo da França com a Espanha, aguentou-se, mas a partir daí…
Há principalmente duas coisas que me causam perplexidade, a primeira é, como é que a não irrelevante percentagem de franceses que vota extrema-direita “engole” uma selecção mais negra que a selecção de Angola? A outra é a idolatria Zidane: a selecção, os bleus, não é a selecção, é Zidane, as capas dos jornais mais sérios são Zidane, na televisão pública passa a toda a hora o slogan mais ouvido nas ruas, Zidane y va marquer, Zidane, Zidane e Zidane.

Por baixo da residência onde estou alojada há uma tabacaria/bar que normalmente fecha às 8 h, mas que nos dias dos jogos da França fica aberta noite fora. Mesmo não querendo tive que assistir ao jogo Portugal-França na companhia de uma pequena multidão de franceses naturalmente histéricos. Apesar de ter ligado a televisão no Arte onde estava a passar a Cármen de Bizet, de ter fechado a janela e os estores, de ter ligado o exaustor da Kitchenete e todas as torneiras da casa de banho … no way, é duro ser emigrante.


No jogo Portugal-Inglaterra juntei-me à comunidade portuguesa no Charlety, o estádio da Cite Universitaire, mas mesmo aí fui estrangeira, a comunidade portuguesa vestida a rigor, camisolas, bandeiras etc grita Pórtiugal e Allez, Allez….


Hoje estou de alma e coração com os Italianos.

Diário de França - a chegada



A chegada: cheguei num domingo e já devia saber que raramente é boa ideia chegar ao domingo a um sítio que não se conhece. Domingo é dia de ficar em casa e se há qualquer problema não há como o resolver. Mais, fica-se com uma ideia totalmente errada das coisas, o domingo é uma pasmaceira. Lembro-me de chegar a Basileia, também num domingo, para uma estadia de 3 meses e de ter tido vontade de apanhar imediatamente o avião de volta, mas que terra é esta, a que deserto vim eu parar!

Orly, tarde de um domingo bem quente, arrasto penosamente a minha mala de 20 Kg (como consegui esta precisão quando atafulhei a mala antes de partir, 20 Kg) mais o portátil, mais um saco a tiracolo em direcção ao RER, mudança de comboio, mais outra mudança de comboio porque apanhei o comboio errado e estupefacta vi toda a gente sair e o comboio ficar vazio meia dúzia de paragens antes da minha. Chegada, um táxi, por favor, um táxi. Chego a uma terra dos livros da Anita, estaçãozinha cuidada e minúscula, parques, caminhos bucólicos, não há táxis. Mapa na mão arrasto toda a bagagem mais 20 minutos. Os raros transeuntes reparam na minha figura, perguntam-me se preciso de ajuda, dizem-me que vou no bom sentido, sinto-me um personagem do George Simenon, vejo as velhotas espreitarem-me pelos cantos das janelas: uma forasteira…
Enfim, Residence hoteliere Les Coupiéres, é aqui. Surpresa, tudo fechado, não há sequer uma campainha, bato à porta, nada, espreito por um vidro, umas escadas cheias de caixotes, deve estar fechado e há muito. Verifico o fax da confirmação da reserva, está tudo certo, telefono uma e outra vez para o número de telefone que vem indicado, ninguém atende, a rua deserta. Uma hora de desespero depois e aparece uma boa alma da casa em frente, explico-lhe a situação, a senhora diz, volto já. E volta, com a dona da Residência que sabia perfeitamente da minha chegada. Estes franceses são loucos.

21.9.06

Diário de França




Diário de França

Decidi começar a escrever este diário, hoje domingo 9 de Julho de 2006, quando faz 3 semanas que cheguei aqui, sul de Paris, para um estágio de 6 semanas num centro de investigação científica: O meu blog está adormecido em Portugal. É claro que o blog não está em Portugal está onde eu quiser, mas só tenho acesso à Internet no laboratório e nem pensar em blogar de lá. Como também não me vejo a passar os fins de tarde, ou as noites num Cyber-café, férias totais de blogosfera.


O homem, neste caso a mulher, é um animal de hábitos: raramente tenho utilizado o meu portátil, utilizo sim os computadores do Lab, cujo teclado, clavier, é AZERT, conclusão se de início escrevia tudo com qs em vez de as, três semanas bastaram para que agora escrevendo do meu portátil me saiam as letras trocadas e ande à procura do til.